Uma nova espécie extinta de inseto aquático do Cretáceo brasileiro

O banner possui duas imagens. A da esquerda é uma arte, em guache, da nova espécie. Ela mostra o inseto pousado verticalmente em um galho, em meio a vários outros galhos e ramos de uma lagoa. O inseto tem asas bem esticadas dorsalmente e a vegetação é verde. No fundo, há um inseto voando e um dinossauro. A foto da direita é da Paula Heloísa, uma mulher de pele morena, cabelos pretos e lisos, e sorrindo, que está sentada em um barco na água.

Pesquisadores brasileiros da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Universidade Regional do Cariri (Urca), juntamente com pesquisadores do Museu Estadual História Natural de Kiev, na Ucrânia, e do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, na Alemanha, publicaram no dia 27 de julho um artigo científico com a descrição de uma nova espécie de inseto aquático da unidade geológica Formação Crato, no Nordeste do Brasil.

 

A Formação Crato

Entre 113 e 125 milhões de anos atrás, durante o Cretáceo Inferior, a África e América do Sul ainda estavam unidas, formando um único continente conhecido como Gonduana. Mas os blocos de terra que formavam estes dois continentes já começavam a se separar, formando um oceano estreito e raso. À beira deste oceano, havia um ambiente composto por lagoas com vida animal e vegetal diversificada, que se preservou como uma unidade fossilífera que conhecemos hoje como Formação Crato, pertencente à chamada Bacia do Araripe, cujas rochas são encontradas principalmente no sul do estado do Ceará.

A nova espécie

O fóssil é um representante da ordem Ephemeroptera, conhecidos popularmente como efêmeras, que são insetos voadores que vivem poucos dias durante sua vida adulta, às vezes até minutos. Durante a sua fase larval, elas são aquáticas. A nova espécie foi incluída na família Hexagenitidae, que é totalmente extinta, e nomeada Protoligoneuria heloisae. Os fósseis das larvas desta família são abundantes na Formação Crato, mas os adultos são raros, como é o caso do fóssil de Protoligoneuria heloisae. Os representantes da família Hexagenitidae foram provavelmente um dos poucos organismos que de fato viveram nos antigos paleolagos e suas larvas sofriam eventos de mortalidade em massa por causa de estresses climáticos na região durante o Cretáceo.

Homenagem

O trabalho é fruto da pesquisa de mestrado de Arianny Storari, realizada no Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da UFES, onde ela atualmente cursa o doutorado realizando sua pesquisa no Laboratório de Paleontologia. Foi lá que ela conviveu com sua colega de laboratório Paula Heloísa Santana Resende, que faleceu em junho de 2021 e foi homenageada no nome da nova espécie. Paula estudava pterossauros da Bacia do Araripe e também era orientada pela professora Taissa Rodrigues, uma das autoras do trabalho. "Queríamos homenageá-la por ser um trabalho fruto do laboratório em que a Paula também trabalhava. Decidimos então nomear essa espécie de efêmera em tributo a uma jovem pesquisadora e amiga que se foi tão cedo", lembra Arianny.

A pesquisa foi publicada na revista Historical Biology. Assinam o artigo Arianny P. Storari, Roman J. Godunko, Frederico F. Salles, Antônio Á. F. Saraiva, Arnold H. Staniczek e Taissa Rodrigues.

O artigo pode ser acessado em https://doi.org/10.1080/08912963.2021.1952196.

Reconstrução de Protoligoneuria heloisae pela paleoartista Dra. Aline Ghilardi (UFRN).

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